Na política Brasileira não existe direita ou esquerda

Tirando os períodos de Ditadura, tanto a de Vargas quanto à dos Militares, exercitamos a vida política do Brasil tentando entender essa dicotomia e essa dupla possibilidade de pensamento político


A clássica divisão de matizes ideológicos e de ações políticas que dividem os partidos e associações em direita e esquerda começou a ser idealizado e verbalizado na França Revolucionária. Os brados por liberdade, igualdade e fraternidade ganhavam as ruas e provocava debates acalorados na Assembléia dos Estados Gerais, tomando o Parlamento como habitat das discussões sobre cidadania, direitos civis e exercício do Poder. 

Por uma questão de “geografia” os conceitos foram se estruturando, pois quem ocupava a direita do parlamento eram os conservadores que não desejavam mudanças, conservando seus privilégios naquela sociedade extremamente hierarquizada. 

Do lado esquerdo estavam os girondinos, membros da pequena burguesia e representantes do povo em geral, conclamando um tempo de mudanças, ora brandas, outras vezes de forma radical, no intuito de estabelecer uma igualdade de direitos e oportunidades. Ao centro... bem, ao centro ficavam aqueles que iam em direção do vento, ou seja de que facção estivesse no Poder. Ficavam no centro para não se comprometer e esperar o momento certo de direcionar o seu caminho.

A Política no Brasil, como nos demais países ocidentais, foi influenciada por estes conceitos, ou melhor, por estes “estigmas”, muito embora a imprecisão destes termos possibilitou uma cultura política sempre fluida e viscosa, que não define ou dá certeza ao eleitorado se a ação política, adotada condiz com a orientação doutrinária do partido, relacionado com uma linha ideológica de Direita ou de Esquerda.

Nos tempos do Império, sobretudo no Segundo Reinado tínhamos duas tendências partidárias: os liberais e os conservadores, que segundo a definição de um jornalista pernambucano “nada mais liberal do que um conservador no poder e vice-versa”, dava a idéia de que os dois eram “farinha do mesmo saco”.

A República se estabeleceu e o modelo federalista imperou. Os partidos tinham suas bases regionais e a oposição que acontecia se dava entre os coronéis locais, que debatiam e literalmente se matavam, não por posições ideológicas e sim pelo controle efetivo do Poder.

Nesse período essas considerações sobre Esquerda e Direita não faziam o menor sentido e assim permaneceu por bom tempo, sobretudo no mundo rural, pois nas cidades o surgimento das massas, principalmente com o operariado trouxeram a cena idéias anarquistas e comunistas, claramente de esquerda, empunhando novamente as bandeiras que foram desfraldadas na Revolução de 1789.

Tirando os períodos de Ditadura, tanto a de Vargas quanto à dos Militares, exercitamos a vida política do Brasil tentando entender essa dicotomia e essa dupla possibilidade de pensamento político.

Confesso que como historiador fico muitas vezes perplexo e chego a seguinte conclusão: em matéria de Política o Brasil é ambidestro ou então não tem coordenação motora! As idas e vindas e as constantes trocas de partidos demonstram que as bandeiras que hoje são levantadas podem ser deixadas de lado no futuro próximo. 

Pode-se também levantar a mesma bandeira durante toda a trajetória política não se dando conta que a tendência ideológica dos partidos que foram sendo trocados ao longo do caminho não tem a mesma característica, ficando assim, aquele político, agindo de maneira incoerente e sem lógica.

Talvez seja demais cobrar lógica e coerência da maioria dos políticos que nem sabem, talvez o que seria isso. Muitos que militam em determinados partidos não sabem sequer a sua história de fundação, os quadros que fizeram parte efetiva e das lutas ao longo do tempo. Sendo assim o que impera é o desejo pessoal, personal e com isso as correntes ideológicas perdem seu objetivo ou a sua função, a de ordenar ou transformar a realidade social.

E o Centro? Talvez a maioria dos nossos políticos, mesmo sem o saber pertencem a essa filiação ideológica e sigam ao sabor dos ventos e das ondas, mantendo seu “barco” sempre pronto a atracar no cais da vitória, nem se interessando se o cais é de Esquerda ou de Direita, afinal de contas, no Brasil, que diferença isso faz!
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