Faltando quase um mês para as eleições, nos
deparamos com o processo eleitoral já em seu volume quase máximo. Acredito que
com mais quinze dias teremos o ápice da exacerbação das práticas de campanha.
Claro que o jogo só terminará no dia da votação, com a indefectível “boca de
urna” e com a atual rapidez das apurações ainda no dia 5 de outubro poderemos
conferir os desempenhos dos candidatos.
Aparentemente, pelas semelhanças nas
campanhas, parece que existe um manual ou cartilha de “Como se eleger um
deputado”. Diariamente uma profusão de placas tomam as praças, esquinas e avenidas
mais movimentadas da cidade, carros de som percorrem todo o perímetro urbano,
fogos são espocados para sinalizar um “corpo a corpo” de um candidato e
bandeiras são desfraldadas em alguns pontos do município.
Tudo acontece de forma quase igual. O que
diferencia é o apetite do candidato, suas possibilidades financeiras e sua
militância em cena. Bem, a palavra mais correta para conceituarmos esse grupo
de cidadãos engajados nas campanhas não me parece ser o de “militância”. O que
pressupõe a ação de um “militante” é sua adesão a causa, sua paixão pelo
partido e o partilhar das ideologias que o candidato e sua agremiação partidária
representam. Isso, de fato, está longe de ser o real!
Podemos ver, sem muita pesquisa que
famílias dividem a sombra das placas nas praças, esquinas e avenidas e a sua
maioria preferem ficar “escondidas” atrás das referidas placas. Muitos são
parentes e amigos, independente da placa que estão segurando. Talvez seja uma
atitude civilizada, pois se a imagem revela desafetos alinhados um do lado do
outro, por detrás das placas o clima é de confraternização e partilha, de
cigarros, de café, de sonhos e de misérias.
Para se eleger um deputado é preciso, por
essa cartilha arcaica que quase todos parecem ter adotado, ter muitos recursos
para pagar semanalmente essa turma das placas, bandeiras, panfletos e afins. É
preciso ter mais dinheiro ainda para que os carros de som, legalizados ou não,
possam rodar de 8 da manhã as 8 da noite. Aliás é necessário compor um jingle
com bastante apelo popular e se possível uma pegada dançante.
Até as primeiras eleições do milênio o
ritmo de samba-enredo era o preferido entre os candidatos. Essa tendência tem
sofrido pequenas alterações, com a entrada em cena de novos ritmos como o
forró, o gospel e o axé. Mais a pegada do refrão tem que ser convincente, pois
bom é o jingle que você se pega cantando, mesmo tendo a certeza de que não
votará naquele candidato de jeito nenhum. Tenho escutado também reedições de
jingles da campanha municipal, transplantadas para outros candidatos, da mesma família.
Acho esquisito e uma falta de criatividade sem tamanho. Não gosto também da utilização
meio inadequada daquele enorme sucesso dos tempos estudantis nas campanhas
atuais. O efeito já se perdeu no tempo!
Na última eleição, durante as reuniões que
realizávamos semanalmente no PV, discutamos essas questões relativas a como
fazer uma campanha, sem recursos, só contando com a militância (voluntária e
com seus múltiplos afazeres) e mesmo assim conseguir dar visibilidade ao nosso
candidato. Por vezes fiquei sentindo um complexo de inferioridade por estarmos
em número muito reduzido com nossas poucas bandeiras e cartões de visita ao
invés de “santinhos”. Antes de entrar em crise com o processo eleitoral, aonde
o que tem contado é a utilização maciça das estruturas municipais, estaduais e
federais para colocar o candidato em evidência, refleti sobre esse modo defazer
política, que parece ter se cristalizado numa cultura política, típica das
cidades do interior do Brasil.
Entre promessas de benefícios, instantâneos
ou futuros, bancados pelos cofres dos governos (nas três instâncias) os atores
políticos buscam o seu protagonismo. Muitos que se candidatam a cargos eletivos
nesse pleito estão mais de olho em se cacifar para as eleições municipais de
2016. Certo ou errado, o que prevalece é a lógica meio torta de mais de trinta
partidos políticos, numa “sopa de letrinhas” sem conteúdo ou ideologia.
Nesse “salve-se quem puder”, ainda acredito
em quem veste verdadeiramente a “camisa” de um partido e procura empunhar sua
bandeira, com ideologia e sonho. Muitas vezes esses grupos são, em números
absolutos, bem menos numerosos que os demais, mas em termos relativos fazem a
diferença, pois fica visível que quando se acredita em transformações, sendo
propositivo, sem perder o senso da realidade é possível “rasgar” a cartilha da
cultura política atual e fazer uma campanha limpa, sustentável e com muita
paixão. Pode ser que ainda esses grupos apaixonados e ideológicos não consigam
eleger o seu deputado, mas com certeza estão jogando as sementes de um novo
tempo, sem tanta poluição visual, sonora e de investimento na miséria humana,
atitudes reveladoras das reais intenções da maioria dos políticos, a de se
apropriar do Poder (em todos os níveis e esferas). Vamos para frente, pois ainda
acredito que com credibilidade e criatividade é possível fazer uma campanha de excelência,
mas completamente diferente das que estão por aí.